HISTÓRIA

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O INÍCIO ...

Banhado pelo rio que lhe dá o nome, o concelho de Ferreira do Zêzere foi, desde tempos imemoriais, palco de eleição para a fixação de gentes das mais variadas proveniências que por aqui deixaram testemunhos indeléveis da sua passagem.

Dos vestígios pré-históricos da Gruta de Avecasta às veneráveis sepulturas antropomórficas da serra de São Paulo, das inscrições romanas lavradas na serra de São Pedro de Castro às dezenas de topónimos de origem mourisca que perduraram até aos nossos dias, são inúmeros e fantásticos os locais a visitar que nos transportam para eras tão remotas.

No início do século XIII, Pedro Ferreiro, besteiro de D. Sancho, a quem este doara parte da área atual deste município, atribui foral a então denominada Vila Ferreiro. Dada a proximidade do rio Zêzere, já em tempo da monarquia liberal, a vila vem chamar-se Ferreira do Zêzere.
Mas muita é a história que reforça e que contribui para o nome Ferreira do Zêzere. Em 1159, D. Afonso Henriques doa à Ordem dos Templários o termo de Cêras, que inclui cerca de metade da área do Concelho. Assim pela primeira vez, é feita referência ás terras de riba-Zêzere na documentação de doação.
 
Só em  1517, quando as populações se recusam a prestar juramento em Vila de Rei é que D. Manuel I termina o conflito considerando que Ferreira do Zêzere continha pelourinhos próprios, tornando-a em 1531 vila. 
 
A configuração do atual do concelho é delimitada em 1836 pela reforma administrativa de Rodrigo da Fonseca Magalhães, entre 1940 e 1950.
 
 

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lenda

HÁ SEMPRE UM CONTO PARA CONHECER

Lenda de Nossa Senhora do Pranto de Dornes

Ainda que alguns autores defendam que o nome original desta antiga vila é Dornas, em virtude de por aqui haver grande produção de dornas (tonéis), um velho manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Lisboa explica que a etimologia da povoação proveio de uma lenda que ainda hoje atrai peregrinos de todas as partes do país.

Há muitos séculos atrás, as terras desta região pertenciam à Rainha Santa Isabel, mulher de El-Rei D. Dinis. Era feitor da rainha, na região, um cavaleiro chamado Guilherme de Pavia, ao qual atribuíam proezas milagrosas. Conta-se deste homem que, certa vez, passou a pé enxuto o rio Zêzere, caminhando de uma margem para a outra sobre a sua capa, que lançara sobre as águas.

Um dia, andava Guilherme de Pavia atrás de um veado, na banda de além do Zêzere, onde só havia brenhas e matos espessos, quando ouviu uns gemidos muito dolorosos. Tentou saber de que sítio provinham e, apesar de perder algumas horas nesta busca, nada conseguiu achar, pois os gemidos pareciam provir dos mais diversos locais. No dia seguinte voltou ali e, de novo, os gemidos se espalharam à sua volta, vindo agora de um tufo espesso de mato, depois de um rochedo, numa ciranda sem fim. Guilherme de Pavia sofria, espantado, partilhando a dor daquele alguém que parecia fazer parte do universo. Ao terceiro dia, tudo se repetiu como antes. Tomou, pois, a decisão de partir para Coimbra, onde estava a sua Senhora, a fim de lhe relatar aqueles estranhos factos. Assim que chegou à cidade, dirigiu-se imediatamente à pousada real e solicitou a sua visita a D. Isabel.

Esta, mal o viu, e depois das saudações devidas, disse-lhe:
– Vindes por via dos gemidos, Guilherme?
– … !
– Não precisais espantar-vos! Três noites a fio sonhei com eles e sei do que se trata.
– O que é então, Senhora? Procurei por todo o lado e nada vi…!
– Bem sei. Deus contou-me tudo nos sonhos. Agora vais voltar ao local e procurar onde te vou dizer: aí acharás uma imagem santa de Nossa Senhora, com o Filho morto em seus braços.
– Assim farei, minha Senhora Dona Isabel! Mas, e depois, que faço eu dessa imagem?
– Guardá-la-ás contigo, até me veres chegar junto de ti!

Despediu-se Guilherme de Pavia da Rainha Santa, levando na memória a localização exata da moita onde a imagem de Nossa Senhora o aguardava, gemendo, e partiu de Coimbra.

Já de volta a terras do Zêzere, o cavaleiro dirigiu-se à serra da Vermelha, como lhe dissera D. Isabel, e foi milagrosamente direito a uma determinada moita, onde achou enrodilhada em urzes a imagem da Virgem pranteando a morte de seu Filho.

Durante algum tempo manteve-a consigo, na sua própria casa. Os gemidos haviam cessado, e assim Guilherme de Pavia tinha a santa imagem na sua câmara, com um archote aceso de cada lado.

Um dia, a Rainha Santa foi, finalmente, às suas terras do Zêzere resolver o caso da imagem. Assim, junto a uma velha torre pentagonal que já aí existia, mandou erigir uma ermida para a virgem achada nas moitas. E nessa torre — que provavelmente foi construída pelos Templários — ordenou que se instalassem os sinos da ermida.

Em breve, o povo começou a construir casas em redor da capela e da torre e, diz a lenda, a Rainha Santa deu a esta vila nascente o nome de Vila das Dores, nome que com o tempo se teria corrompido até dar Dornes. É isto o que conta a lenda transcrita no velho manuscrito.

A capela deu lugar em 1453 a uma igreja e a imagem achada há muitos séculos atrás é venerada sob a designação de Nossa Senhora do Pranto.